Em meio ao dilúvio, Opeth, o bárbaro, conquistou São Paulo

8 04 2009

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Mikael Åkerfeldt: bom humor e camisa do Conan

Um dilúvio castigava São Paulo na tarde do domingo em que o Opeth faria sua primeira apresentação em terras brasileiras, divulgando o último álbum, Watershed, de 2008. A banda, extrema na dificuldade de ser rotulada e, por isso, apreciada, atraiu quase a completa lotação do Santana Hall, algo inacreditável tanto para quem acompanhava a falta de interesse da mídia tupiniquim pelos suecos na ocasião do lançamento de seus trabalhos cruciais Still Life (1999) e Blackwater Park (2001), quanto pela escassa discografia lançada por aqui.

Tamanha chuva, porém, gerou alguns contratempos. O primeiro foi enfrentar os alagamentos na região norte da capital paulista, onde se encontra a casa. Apesar de não ter presenciado pessoalmente, ouvi relatos de que a fila da entrada no show teria atravessado o meio da correnteza da água da tempestade. Ainda havia algumas goteiras no próprio palco. A qualidade de som estava boa, apesar de já ter presenciado o Santana Hall em melhores dias, o que é uma pena, dado o minimalismo da música do Opeth exigir um som cristalino.

Apesar dos contratempos, Mikael Åkerfeldt demonstrou todo o seu bom humor. Fez piadas que iriam desde ridicularizar os tradicionais vocalistas de metal até uma proposta bizarra para se alterar o tradicional chifre com os dedos por um sinal de gancho, não deixando de tirar sarro nem da plateia por acatar a ideia tão facilmente, nem de si mesmo em torno de sua suposta genialidade e suas habilidades futebolísticas, além de, ainda fazer referência ao filme Conan, O Bárbaro, que estampava sua camiseta.

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Fredrik Åkesson já apresenta ótimo entrosamento com o "gênio" Mikael

Tudo isso, porém, é perfumaria. O que interessa é que o Opeth veio e, no chavão romanesco, venceu. Com folgas, podemos dizer. Não foram raras as vezes que a voz do guitarrista foi encoberta por uma maciça participação do público, fosse nas vocalizações limpas, seja nas partes guturais. A performance musical do grupo foi de esplêndida perfeição na execução de suas intricadas partes, excetuada talvez por uma ou outra escorregada da seção rítmica, por enquanto menos coesa com Martin Axenrot do que com o baterista antigo, Martin Lopez. Por outro lado, o duo de guitarras está mais afiado do que nunca, com o ex-Talisman, Arch Enemy e Krux, Fredrik Åkesson, ao lado de Mikael.

Num show que beirou duas horas de duração, os suecos mostraram três músicas de Watershed, na abertura com Heir Apparent, a bela Hessian Peel – sem os vocais invertidos – e a monstruosa The Lotus Eater, com toda a seção intermediária psicodélica executada à perfeição. Dos trabalhos mais antigos, The Night and the Silent Water veio ao lado da tranquila Credence, embora, de My Arms You Hearse (1998), o clássico Demon of the Fall, pedida em coro no Santana Hall, tenha feito muita falta.

Outro momento de serenidade veio com uma versão estendida de Closure, com citação a Jimi Hendrix em meio a seus improvisos. Mas a casa veio praticamente abaixo quando o grupo executou os já também clássicos The Leper Affinity e Godhead’s Lament, apesar da gritante ausência de The Drappery Falls e Master’s Apprentices, provavelmente guardadas para uma futura apresentação do grupo no Brasil, ou assim esperamos. Pois, quando Deliverance encerrou de forma apoteótica essa apresentação devastadora, não havia como discordar de uma das inúmeras ironias destiladas por Mikael Åkerfeldt ao longo da apresentação, aqui ampliada: se você não acha que o Opeth é fantástico, o seu gosto musical não presta.

Site do show do Opeth informando início da apresentação às 20h

Site do show do Opeth informando início da apresentação às 20h

PS: Apenas como nota final, ressaltamos que o show, marcado para começar às 20h, iniciou-se às 19h15. Ninguém aqui reclama, muito pelo contrário, de começar as apresentações mais cedo, principalmente aos domingos ou em dias úteis. O problema é fazer isso em desacordo com informação constante no próprio site no dia do evento, ainda mais quando um dilúvio castigava a cidade e as suas vias de transporte. Se já se sabia que o Opeth “abriria” a apresentação do Calcinha Preta no Santana Hall, e, assim, deveria sair do palco cedo, qual a dificuldade em apontar a hora correta em que o grupo começaria a tocar? Não menos difícil do que abastecer o bar para não faltar bebida ao longo da noite…

Por Thiago “Hal” Martins
Fotos: Paula Salles


Ações

Information

20 responses

8 04 2009
Lucas

Inveja de quem foi …

9 04 2009
Control Denied

o show foi surreal….sem comentários!!
este eno está maravilhoso!! primeiro foi o Maiden, agora o Opeth…pra ficar 115% só falta o Cynic tocar aki!!

Metal na veia!!

9 04 2009
Thiago Martins

Cynic seria bom demais. E quem sabe uma banda desse naipe pra conseguir tirar o Sarkis de BH!!!

9 04 2009
Jackson

Putz.. Abrir pro Calcinha Preta é brabo *~*

9 04 2009

Sem dúvida, uma apresentação marcante inesquecível!

Difícil achar algum ponto a ser criticado, pois a performance foi impecável (quase que hipnótica), e o som estava excelente!

Se posso citar algum desapontamento pessoal, ficou por conta do set, que priorizou vários sons novos em detrimentos dos antigos clássicos (1 música do Morningrise e nenhuma do Orchid não dá…). Gostaria muito de ter conferido “Black Rose Immortal”, “Nectar” e “Under the Weeping Moon”, “Apostle in Triumph”, dentre outras, ao vivo (quem sabe não fica pra próxima), mas confesso que esta ausencia não foi capaz de tirar o brilho de tamanha maestria no palco! Absolutamente sem comentários!

10 04 2009
Thiago Martins

Jé… concordo com você que pelo menos uma música do Orchid deveria ser tocada, para representar toda a história do Opeth. Mas entendo que essa fase não seja priorizada num setlist, pois, como o próprio Mikael disse numa entrevista ao Sarkis ainda na Roadie Crew, essa é uma época em que as coisas não aconteciam para a banda, foi quando ele praticamente desencanou de levá-la a sério profissionalmente. Por isso, eu falo que o Still Life e, principalmente, o Blackwater Park foram decisivos na carreira, e, assim, compreenda o desejo de priorizar ao vivo os lançamentos partir daí, dando uma preferência normal ao último disco, em divulgação. Como eu falei, eu acho que The Drappery Falls foi uma ausência absurda, pois é um hino deles, mas, dentro do contexto de uma música por disco, concordo que algo do Orchid tenha feito mais falta (e eu votaria em The Apostle in Triumph).

Ficam todas para um próximo show. E aí a campanha “Sarkis, saía de BH” vai ganhar mais força. 🙂

12 04 2009
Ricardo

Demon of the Fall, The Drapery Falls e Master’s Apprentice fizeram muita falta, mesmo.

Mas, mesmo, assim, o show valeu muito a pena. Realizei um sonho vendo o Opeth tocar Deliverance!

E uma coisa interessante: vc paga pra ver um show musical e ganha um show de stand up comedy de graça! Hauehauehuea… o Mikael é muito engraçado.

12 04 2009
Juliana Chacon

e ainda há quem reclame da organização do show do Iron Maiden…

goteira no palco, e adiantar o show é sacanagem! Fora a falta de divulgação..

12 04 2009
Mergulho

Muito boa matéria, lindas fotos e excelente conteúdo.
Parabéns!!!
Já mandei para alguns amigos

Bruna

13 04 2009
Marcos Vale

Saudações!

Fico muito feliz pelas menções positivas em relação ao show do Opeth. Infelizmente não pude ir – e para mim seria muito importante fazer um ‘apanhado geral’ da carreira dos caras, através de um show – e pelo jeito, mesmo com os contratempos de sempre em se tratando de shows de metal em SP (antecipar o horário do show é dose pra cavalo!), tivemos mais uma apresentação maravilhosa do gênero por aqui.

Mas ‘abrir’ pro Calcinha Preta, hein???? (muitos risos)

A campanha “Sarkis, saia de BH” acaba de ganhar mais um adepto! (mais risos ainda!)

Abraços a todos e ótima semana!

13 04 2009

Thiago Martins…. Obrigado pela resposta ao comentário. Na realidade, embora não tenha acompanhado estas entrevistas com o Mikael, confesso que dá pra ter uma idéia que os dois primeiros álbuns simbolizam um período nebuloso para a banda (eu mesmo os conheci nesta época graças ao cover de Circle of the Tyrants no tributo do Celtic Frost), e acho que isso influencia em muito a concepção do artista, seja de maneira consciente ou inconsciente, no grau de afeição com a sua obra, a ponto de repercutir diretamente na escolha de um setlist. Mais do que natural, plenamente compreensível e congruente o discurso dele, ainda mais se levarmos em consideração que a apresentação em SP era a única no país. É que preferência pelo material antigo no set também acaba sendo um lance pessoal meu pelo fato de ter sido efetivamente apresentado a banda pelos dois primeiros álbuns, então meu vínculo emocional, se é que podemos denominar assim, com aquelas músicas é ainda bem maior do que o material contemporâneo, embora já nutra grande aprecição pelo mesmo, e este já não seja tão novo assim… Numa análise fria, obviamente ficaria difícil fazer um set para abranger todos os períodos e agradar a todo mundo, já que aí esbarramos tb no aspecto temporal, praticamente todas músicas são de extensa duração…. Então acho que para o primeiro e único show do Opeth no Brasil, o critério escolhido foi sim adequado e congruente, com exceção das já citadas e injustificadas ausencias de The Drapery Falls e Demon of the Fall… Esperamos pelo próximo então, com grande expectativa!

Enquanto isso, ajudarei na propagação da campanha “Sarkis, saía de BH”! 🙂

Grande abraço meu caro!

15 04 2009
A.N.D.E.R.S.O.N.

Calcinha Preta deveria ser proibido de tocar nesse palco que pelo menos naquela noite havia se tornado solo sagrado!

16 04 2009
wendell

O Opeth deixou a desejar, e o Brasil tb.
A nota do mike sobre a turnê infelizmente reitera o que todo mundo sentiu: o show poderia ter oferecido mais (o batera é ruim, afinal pipocou boa parte do show nos bumbos), a casa era uma onfensa, e o público tb não foi o mais empolgado que ja vi.
Até a cerveja acabou!

16 04 2009
Clareamento

Muito bom seu blog. Gostei das matérias

Parabéns!!!

Thais

21 04 2009
Mega Hair

Realmente não vi nada na midia.

Adriana

23 04 2009
Bronzeamento Artificial

Realmente valeu muito a pena. Apesar dos problemas

Aline

24 04 2009
Rose of mist

O show foi perfeito, embora tenha havido uma goteira do inferno no meio do palco e eles não terem tocado Master’s Apprentice, Under the Weepeing Moon, The Grand Conjuration, Funeral Portrait, Windowpane, Harvest and so on. Não achei nada ruim o show ter sido antecipado, principalmente depois de ter viajado mais de 1000km para ver os caras, ter ficado 4 horas na fila e não precisar ouvir por mais de 30min a banda de abertura, que, aliás, parou de tocar antes do previsto, imagino, por pressão da galera, rsrsrs. Ninguém estava lá para ver a banda de abertura e até o pessoal do The Archeangel estava ciente e afoito para ver Opeth. Os rapazes são bons, mas, sorry! Queríamos Opeth tocando o maior tempo possível. Lamento pelo pessoal que não conseguiu pegar o início do show… se fosse eu, teria me “descabelado” por isso. Ficamos com a sensação de que foi muito pouco, mas foi maravilhoso!!! Espero poder ver algo do tipo Lamentations da próxima vez, rsrsrs. Palmas para uma das melhores bandas de metal do mundo (senão a melhor) e também para a galera que se comportou legal, apesar de ter faltado uma pitada a mais de entusiasmo. Que o Senhor Metal nos ajude e que NUNCA MAIS aconteça de o Calcinha Preta ou outro grupo da mesma linha tocar no mesmo dia que o Opeth, Amen!!! +)

28 12 2009
mudança

que pena que nao deu para ir
Ana

28 12 2009
imoveis zona sul

Show de bola
hehe

4 04 2010
Fabricio

Essa do horário foi foda. Eu vim de São Bernardo (a terra do vice-prefeito Frank Aguiar) e cheguei pouco antes das 20hs e ouvi um som lá de dentro, o que pensei (e torci pra) ser uma banda de abertura… nada, já era o Opeth na sua quarta ou quinta música. FODA! Paguei, cheguei antes da hora e perdi boa parte das músicas.

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