Maurício Ricardo fala sobre Os Seminovos, Charges, Dimebag e BBB

7 04 2009

Charges.com.br

seminovos03Há praticamente uma década fazendo a alegria do público com o Charges.com.br, o cartunista e chargista Maurício Ricardo é um fenômeno da Internet e roqueiro de plantão. Personagens inspirados em ídolos e grupos de Rock ‘N’ Roll são frequentes em seus trabalhos. Em dezembro de 2004, ele colocou seu lado crítico em função da música que ama e, com humor e sátira, respondeu aos comentários e críticas descabidos de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo após o assassinato do guitarrista Dimebag Darrell (Pantera, Damageplan)¹. Oito meses depois, formou Os Seminovos, atingindo – rapidamente -, projeção nacional e sucesso similar ao que alcançou após anos e anos de luta como chargista até se consolidar como um pioneiro empreendedor da rede mundial de computadores.

Em entrevista exclusiva ao Solada, Maurício Ricardo falou de suas paixões, influências, carreira, Dimebag e a inspiração para a charge sobre os comentários de Arnaldo Jabor. É claro: não faltaram também informações sobre os Seminovos, Charges.com.br, opiniões sobre pirataria e a indústria musical, os humorísticos CQC e Pânico, e Big Brother Brasil.

seminovos_volume21Recentemente, os Seminovos lançaram o álbum Volume Dois com capa inspirada nos Beatles. Quando vocês começaram os trabalhos nestas músicas e o que tinham em foco para este álbum?
Maurício Ricardo: Na verdade a gente nunca acreditou no “produto” álbum. A coisa funciona assim: vamos lançando as músicas, como se fossem singles. Quando atingem uma quantidade que daria pra preencher um CD, cerca de 12 a 14 músicas, pensamos numa sequência para as faixas, produzimos uma capinha e empacotamos tudo num arquivo só. É muito mais para alimentar o fetiche da galera que ainda curte CDs completos, e para facilitar a circulação das músicas – e com isso a divulgação. Na verdade essa coisa de CD está caidaça depois da Internet. O público não engole a ideia – com razão – de pagar uma nota por 14 músicas quando na verdade gosta mesmo é de três ou quatro.

Houve mais planejamento para este segundo disco? Parece que o primeiro, Não Tem Preço, foi lançado mais pela repercussão na Internet que por qualquer outra coisa, não?
Maurício Ricardo: Então, é o que eu estava dizendo: adoro álbuns conceituais. Dentre as muitas vertentes do Rock que curto, sou amante do Progressivo dos anos 70, por exemplo. Neste caso, cabe um disco completo, mas não no Pop ou no Hard Rock de hoje. Havia um tempo em que bandas como Led Zeppelin e Deep Purple lançavam verdadeiras obras-primas, mesmo com músicas muito diferentes entre si. Hoje está cada vez mais raro. Claro, adoraríamos se o pessoal que está baixando “Não tem preço” e Volume 2 curtisse todas as faixas, mas nós mesmos reconhecemos nossos bons e maus momentos (risos).

No primeiro disco vocês provocaram a ira dos emos. E agora? Quem vocês estão irritando e de quem mais vocês estão pegando no pé? (risos)
Maurício Ricardo: Em Volume 2, zoamos os roqueiros que vão tocar sertanejo pra ganhar a vida (Perdão, Leonardo), os caras metidos a gostosões (Só seu) e alguns fenômenos da Internet, como E o bambu?, do Silvio Santos. Mantivemos também o lado mais sério e politizado (Muito orgulho, muito amor) e colocamos até uma faixa bônus, Pensando em sexo, só pra incentivarmos o download do disco todo (risos). Porém, nosso último hit nem chegou a entrar no disco que é a Ela é Otaku e fala sobre o universo dos desenhos japoneses. Essa está bombando no YouTube e em convenções de anime.

“(…) o que é mais honesto: gravarmos e doarmos nossas músicas para divulgar o trabalho ou pagar para rádios – concessões federais – tocarem lixo?”

Você já explicou porque disponibilizou os dois discos on-line com capinha para o público. Porém, por um lado, isso também não é como ceder à pirataria? Podemos criticar e muito às gravadoras, mas furtar música de artista também não é a atitude mais correta. Você pensa que atitudes como a dos Seminovos de disponibilizarem o CD por completo sem qualquer custo não podem desvalorizar o produto de vocês?
Maurício Ricardo: Não acredito que este tipo de ação incentiva a pirataria. Pelo contrário: estamos oferecendo download legal e enxergamos isso como investimento em marketing. Não temos grana, como as gravadoras, pra fazer a música bombar no rádio. E aí eu te pergunto: o que é mais honesto, gravarmos e doarmos nossas músicas para divulgar o trabalho ou pagar para rádios – concessões federais – tocarem lixo? Infelizmente no Brasil, rádio ainda é jabá.

Apesar das restrições quanto às gravadoras, vocês ainda pensam em lançar o produto físico? (CD, LP, etc.?)
Maurício Ricardo: Não. Para mim, estas são mídias que estão morrendo. Existe esse ‘revival’ do LP, que interessa à indústria do disco porque o vinil é muito mais difícil de ser pirateado, mas é para um público seleto. A música está no celular, no iPod, no PC, no notebook. A garotada hoje nem fala mais ”Você tem aquela música da Britney?”. A linguagem é: “Você baixou aquele arquivo da Britney?” (risos).

Vocês têm um DVD pronto e não têm como lançar isso, certo? E agora? Você vê a Internet como uma alternativa para disponibilizar este material?
Maurício Ricardo: Sim. Realmente temos um DVD pronto, gravado ao vivo com grua, várias câmeras, etc., mas não encontramos uma forma de lançar e distribuir. Na verdade, o que falta é um empresário pra cuidar do lado business da coisa: todos nós estamos muito focados nos trabalhos e é o que faremos. No entanto, para facilitar a vida de quem não tem banda larga, ofereceremos uma tiragem limitada a custo baixo pra quem quiser comprar. A venda será apenas virtual, através de sites tipo o Mercado Livre.

Se os Seminovos passam a fazer sucesso nacional efetivamente (como o Ultraje fez quando lançou a estreia), você larga o Charges.com.br? Sim, não? Por quê?
Maurício Ricardo: Jamais. Amo música, mas o Charges.com.br é o projeto da minha vida. Uma vez vi o Michael Stipe (REM) dizer que o pior das turnês é o tempo vago: o cara toca duas horas e passa o resto do dia no avião, busão ou hotel. Bem, se Os Seminovos caíssem na estrada eu teria o Charges.com.br pra ocupar meu ócio (risos).

Você é um fenômeno que surgiu na Internet; os Seminovos também. Ótimo, estamos olhando pelo lado positivo da história. Contudo, o que a Internet traz de negativo nesta liberdade generalizada que possibilita ao público?
Maurício Ricardo: Olha, a Internet simplesmente “é”. Ela mudou tudo nas artes e não adianta tentar se agarrar ao “velho mundo”. Ela está aí, representa uma revolução e o desafio é achar um espaço nessa “nova ordem”. Tem o lado negativo, claro. Acho um absurdo um YouTube permitir que uma pessoa publique capítulos de novela ou clipes sem a autorização dos autores, só para dar um exemplo. Fica tudo lá nos servidores deles, do Google, e eu chamaria isso de “interceptação de mercadoria roubada”. Também está difícil para o artista achar um formato de venda de seu produto. Mas o lado bom supera: tem muito mais gente ganhando espaço. Muito mais artistas se popularizando com a Internet e faturando o que nunca pensaram ganhar através de shows. Veja meu caso: um cartunista de Uberlândia, Minas Gerais, que conseguiu projeção nacional sem sair do interior. Como eu posso reclamar da Internet (risos)?

Qual é a sensação de ser a primeira banda (ou uma das poucas bandas) no planeta a ter lançado dois álbuns completos sem vender uma cópia sequer?
Maurício Ricardo: Sabe a historinha do otimista e do pessimista? Um vê meio copo cheio e o outro meio copo vazio? Então: sendo pessimista, eu diria que a sensação é de frustração por não ganharmos um centavo. Sequer fazemos shows, porque não temos empresário para sair vendendo. Porém, que outra banda com cara trintões (eu sou quarentão) tem mais de 5 milhões de exibições no YouTube e 350 mil downloads de MP3? É legal entrar no Orkut e interagir em uma comunidade de 20 mil fãs. É legal ter fãs! Dinheiro a gente busca em outro lugar, enquanto a música nos diverte (risos).

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Falemos um pouco sobre a história dos Seminovos. Como pintou a idéia de formar a banda?
Maurício Ricardo: Bom, era meio inevitável que eu, roqueiro a tanto tempo quanto cartunista, fazendo paródias de humor há seis anos na Internet, acabasse me envolvendo com uma banda do estilo. Cheguei a colocar no ar algumas gravações de humor que fiz com outra banda, Os Crápulas, nos anos 90, mas não quis montar um grupo especificamente para o Charges.com.br para não ficar forçado. Aí veio escândalo do Mensalão. Fiz uma letra pra Festa de Arromba grande demais para virar charge. Optei por colocar no ar só o MP3. Fez o maior sucesso. Dois companheiros de música, Neto Castanheira (guitarra) e Alex Mororó (batera) me acompanharam pra cantar a paródia ao vivo no Jô. Daí empolgamos: resolvi ficar só no baixo, chamamos o Neto Fog pra cantar e o Tchana pra outra guitarra… nasciam Os Seminovos!

Por falar em sua paixão pelo Rock, lembro-me que um dia após a morte de Dimebag Darrell do Pantera, eu te procurei, e você aceitou imediatamente a ideia de fazer uma charge¹ satirizando os comentários de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo sobre o assassinato do músico. Você acredita que a razão para sua prontidão em criticar o texto dele foi oriunda de seu envolvimento com o Rock?
Maurício Ricardo: Sem dúvida o que me chamou a atenção naquele episódio do Jabor foram as manifestações de intolerância. Essa associação imediatista do tipo “é fã de rock pesado, que tem letras violentas, então é violento”. Acho que é subestimar o público, que sabe perfeitamente o que é a arte e o que é a vida real. Surpreendeu-me mais ainda ver gente esclarecida na mídia batendo nessa tecla.

“(…) De certa forma o Jabor pisou no meu calo. (…) Enfim, gente violenta existe em todas as tribos urbanas.”

Aí, você aproveitou e fez piada em cima do Jabor. Lembro que até levei um conceito a você, mas sua idéia tinha uma veia mais cômica…
Maurício Ricardo: É, acima de tudo o Charges.com.br é um site de humor. Precisava ser daquele jeito. Sou roqueiro desde moleque. De certa forma o Jabor pisou no meu calo. A argumentação é besta: há os pit-boys ruralistas barbarizando ao som de Zezé Di Camargo, os bandidos do Rio barbarizando ao som do Funk… Enfim, gente violenta existe em todas as tribos urbanas.

É verdade. Acho que ele decepcionou muita gente que o admirava. Muito leitor entrou em contato comigo depois daquilo dizendo que até largou mão do Jabor, apesar de antes curtir o que ele dizia…
Maurício Ricardo: Aí também já acho radicalismo demais… Se no conjunto das ideias o cara é bom – e eu acho que é – a galera tem que dar um desconto! Debate de ideias é legal, e sou adepto daquela velha frase: “apelou, perdeu”! (risos)

Você conhecia o trabalho de Dimebag Darrell com Pantera ou Damageplan antes da tragédia?
Maurício Ricardo: Cheguei a ouvir alguma coisa, mas quando o Pantera surgiu, eu já estava numa outra praia mais light (risos). Sou um veterano de mais de 45 anos, da old-school. Bebi na fonte com Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath e acompanhei bem até o Iron Maiden. Cantei todas essas bandas ao vivo em bandas cover que tive ao longo dos últimos 20 anos. Aliás, continuo cantando Led Zeppelin.

A notícia foi chocante, de qualquer forma. Digo, ser assassinado no palco por um fã é algo inacreditável! Nem o assassinato de John Lennon foi tão extrema e assustador…
Maurício Ricardo: Ah, claro. ‘Bad trip’ total. No palco é muito mais dramático. Aliás, já estão produzindo o filme? Nos EUA tudo acaba em grana (risos).

seminovos04Realmente. Tudo que sei é que a E! procurou a família Darrell para um daqueles programas sensacionalistas que faz. Bem, você falou um pouco de seus gostos. Há outras bandas que você citaria como favoritas, talvez influências?
Maurício Ricardo: Ah, eu curti muito Progressivo dos anos 70. Em termos técnicos acho Yes clássico, Gentle Giant, Rush e o Genesis da fase Peter Gabriel imbatíveis. Também ouvi e ouço muito Beatles e Pink Floyd. Adoro Glam Rock (Slade, Sweet, Kiss…) e até algumas mais mainstream, como o Queen, que tive a sorte de ver ao vivo no Morumbi em 81.

Gentle Giant? Sabia que o vocalista do Gentle Giant, Derek Shulman, foi justamente o responsável por levar o Pantera a uma grande gravadora?
Maurício Ricardo: Do Pantera, eu não sabia. Sabia de outras grandes bandas que ele havia contratado. Pena que, com o sucesso como produtor e executivo, o cara desistiu de tocar. Já ouviu Gentle Giant? Não é fácil, mas é sensacional.

Sou fanático por Gentle Giant, entrevistei o Derek Shulman algumas vezes. Hoje ele tem uma gravadora que inclusive conta com algumas bandas famosas no cast como The Rasmus, GWAR!
Maurício Ricardo: Putz, louco! Se conseguir um autógrafo dele, me manda! Já comprou os dois DVDs oficiais? Moeção total!

Já! Porém, há um vídeo antigo deles que é melhor que os dois DVDs juntos!
Maurício Ricardo: Por que roqueiro tem sempre que ter “o-video-raro-que-você-não-tem”? (risos).

Escapuliu (risos). Bem, voltando aos Seminovos, quando vocês começaram a trabalhar em composições próprias? Todos os membros da banda são músicos experientes, apesar de exercerem outras atividades, não?
Maurício Ricardo: Sim. Eles vêm de uma longa carreira no Rock. Tchana e Castanheira chegaram a tocar em Londres e gravar um EP com a banda Tamisa. O Alex é considerado um dos grandes bateras da região e tocou com meio mundo. As músicas estão brotando muito facilmente, principalmente porque sou um compositor prolixo, mesmo que muitas músicas acabem indo pro… lixo (risos). Trocadalho do carilho. Ah, e o Neto Fog esteve no Tamisa também, em uma fase “brasileira”, e tem uma agenda bem cheia.

As composições de vocês, no entanto, parecem guiadas pelo conteúdo das letras. Não há um estilo determinado que se espere da banda. Pode surgir tanto Punk, quanto Emo, Blues, etc., depende da letra, certo?
Maurício Ricardo: A gente é versátil, mas tem limites: tem uma clara tendência, que é a do Rock Clássico, baseado em guitarras, em suas diferentes vertentes. Não vamos fazer um pagode, por exemplo, para zoar os sambistas!

seminovos_london1Você não acha que, por momentos, as letras e o próprio fato de você ser um humorista reconhecido em todo o país influem um pouco na maneira como as pessoas ouvem os Seminovos? Talvez vendo-os como uma mera avacalhação, não como músicos de verdade que são.!?
Maurício Ricardo: Aí é que está: quem não conhece música, ouve pela piada, mas quem curte Rock percebe que o lado musical é sério. O pessoal da banda manda bem nos instrumentos, então o casamento acaba funcionando. Eu vejo que a galera entende isso pelos e-mails que recebemos e os comentários no Orkut. No instrumental não rola exatamente avacalhação. Rolam citações humorísticas, como no caso dos emos e na versão de Drive My Car dos Beatles intitulada Do Tipo I Love You.

Exato, o instrumental é bem bacana. De qualquer maneira, você diria que os fãs da banda são mais aquelas pessoas que ouvem pela piada ou pela música em si?
Maurício Ricardo: A gente está surpreso de ver que está fidelizando um pessoal que não é exatamente o fã do Charges.com.br. Mesmo com humor, algumas letras retratam de forma bem realista o dia-a-dia, e muita gente está entendendo isso.

Uma coisa que vejo no Rock é uma dificuldade de, em caso de bandas que exploraram mais este lado humorístico, as pessoas dissociarem a brincadeira da qualidade dos músicos e das composições. Muita gente demorou séculos para reconhecer o valor dos Mamonas Assassinas como instrumentistas, por exemplo.
Maurício Ricardo: Por outro lado, veja só como são as coisas: meus quatro colegas e eu damos murro em ponta de faca no mundo do Rock há décadas. Gravei pela BMG nos anos 80, com produção do Marcelo Sussekind. Todos os outros têm pelo menos um disco gravado. E só agora conseguimos uma repercussão nacional! Sabe o que eu acho? Gente fazendo coisa engraçada tem muita. Os Mamonas estouraram justamente por ser humor… Humor com qualidade musical!

Além do humor, o conteúdo lírico tem ligação vários aspectos políticos. Qual a importância que você dá à sua música como expressão política?
Maurício Ricardo: O legal nos Seminovos é que posso escrever letras engraçadas, mas mais pessoais. O lado político apareceu em Não acredito, mas tem muito de drama real por trás de Esse vai ser um sucesso, por exemplo, e Juíza em Goiás. É a história de vida de um monte de gente que eu conheço, contada com ironia. Por outro lado, há Patricinha e Eu sou emo, por exemplo. Nessas eu estou tentando ser simplesmente o palhaço de sempre (risos).

Ironia ácida e que às vezes incomoda muitos fãs. Eu sou emo deixou muito emo irado com você. Conte-nos um pouco sobre isso.
Maurício Ricardo: É verdade. Muitos emos ficaram irados, mas não era essa a intenção. A música é uma brincadeira. Folclorizei a coisa porque já vivi isso antes. Tive meus 18 anos, minhas tribos, usei meu visual como forma de expressão e sei que depois a gente vê isso tudo de uma forma muito mais leve. Os Mamonas, que você já citou, e o Língua de Trapo, fizeram isso também. É humor, poxa! Não é ofensa!

“(…) Claro que o Metal tem extremos. Neguinho passa da conta… (risos) Por que não rir deles? O The Darkness também era isso, mas tem gente no Brasil que não percebe a piada (…)”

O Massacration também…
Maurício Ricardo: O Massacration é outro ótimo exemplo. Claro que o Metal tem extremos. Neguinho passa da conta… (risos) Por que não rir deles? O The Darkness também era isso, mas tem gente no Brasil que não percebe a piada e ouve como se fosse sério!

Em Essa vai ser um sucesso, você chega a falar de “pistolão na MTV. Ao abordar isso, você sente que faz uma piada sobre algo sério?
Maurício Ricardo: É o tipo exemplo de humor com amarga realidade que eu lhe falei. O porteiro que é “pistolão” na MTV, mas o fenômeno é mais amplo: as grandes redes de rádio tomaram conta do Brasil. Elas só tocam artistas por dinheiro. Tutinha, da Jovem Pan, assumiu o jabá em entrevista à Playboy. E os caras das rádios independentes o que fazem? Em vez de criarem seus próprios sucessos, tocarem artistas independentes e buscarem diversificar a programação, acabam copiando a lista de programação das grandes redes! Acho até compreensível a parceria entre artistas e rádios – “eu toco você, você faz show de graça pro meu público” -, mas o que os grandões pedem é grana mesmo! Cash!

Bem, O Charges ganhou uma popularidade enorme e acredito que, com isso, o site tenha ganhado muita fã “Patricinha”, não? Elas apelam com as brincadeiras feitas em músicas como Patricinha, assim como alguns emos fizeram por causa da Eu sou emo?
Maurício Ricardo: Elas nunca se assumem como tal, então o bom é que não apelam com a piada. As poucas que se assumem, viram aquilo como uma homenagem, o que de certa forma não deixa de ser: o personagem da música critica, mas está louco pra fazer a menina (risos).

“Já conversei uma vez sobre isso [N. do E.: músicas dos Seminovos no Big Brother Brasil] com a produção, mas a coisa não evoluiu. Não forço a barra para não misturar as estações (…)”

(risos) Por falar em popularidade, há alguma música dos Seminovos que você acha que renderia uma bela trilha-sonora para os acontecimentos do atual Big Brother Brasil ou para edições anteriores do BBB?
Maurício Ricardo: Já conversei uma vez sobre isso com a produção, mas a coisa não evoluiu. Não forço a barra para não misturar as estações, já que meu trabalho como cartunista já me satisfaz plenamente. Mas uma música como Só seu, por exemplo, poderia ser tema de quaisquer daqueles saradões metidos a gostosos que já apareceram na maioria das edições (risos).

Como você vê as críticas, principalmente por parte dos “intelectuais” brasileiros, em relação ao BBB?
Maurício Ricardo: Existem duas formas de se ver o programa. Você pode ver como uma grande bobagem, com gente à toa e exibicionista num aquário ou como uma experiência interessante sobre comportamento humano, vendo as máscaras caindo, gente comum se transformando, se agrupando, se odiando, se amando. Eu vejo da segunda maneira, e já via antes de fazer charges para o programa. Eu gosto do BBB genuinamente e não estaria lá há cinco anos se fizesse um trabalho sem tesão.

Essas críticas afetam o seu trabalho como chargista e/ou com os Seminovos?
Maurício Ricardo: De forma nenhuma. As respostas positivas são infinitamente maiores. Sou muito grato ao público pelo carinho.

Em quem você aposta para vencer o Big Brother Brasil 9?
Maurício Ricardo: Já pensei na Francine, mas acho que hoje é a Priscila, que se mostrou inteligente e não ficou restrita ao grupinho do Lado B.

Quando os Seminovos se juntarão a Alberto Caubói para um show? Ele acabaria com a popularidade dos Seminovos ou os Seminovos acabariam com a migalha de popularidade que restou a ele?
Maurício Ricardo: (risos) Encontrei o Caubói dia desses no aeroporto. Ele diz que agora está bem, mas que foi barra aguentar o “pós-BBB”. Para mim, os “vilões” de lá não são muito diferentes daquele amigo que é gente fina, mas se transforma e vira um troglodita no racha de fim-de-semana. É gente competitiva, que se deixa levar pela emoção do momento. O próprio Caubói, pessoalmente, é um cara legal e acessível. Lá dentro ele estava surtado (risos). Mas por via das dúvidas, deixe-o lá e Os Seminovos aqui (risos).

Três perguntas para encerrarmos, Maurício. A primeira sobre esporte, também uma preferência do Solada. Qual timeteu e o que você espera que esse time faça em 2009?
Maurício Ricardo: Meu único time é o Uberlândia Esporte Clube, o Furacão da Mogiana. Estou muito feliz com a volta dele à divisão de elite do futebol mineiro, mesmo sabendo que não adianta jogar bem: a Federação Mineira sempre garfa a favor dos times de BH (risos).

“Gosto dos dois [N. do E.: Pânico e CQC]. (…) Se tivesse que levar só um programa para uma ilha deserta (risos) eu ficaria, hoje, com o CQC.”

A segunda é sobre dois humorísticos muito comentados no Brasil atualmente: CQC e Pânico. O que você pensa destes programas?
Maurício Ricardo: Gosto dos dois. O Pânico é mais “podreira”, com aqueles anões e humor pastelão. O CQC é mais inteligente: curte mais quem tem mais informação. Mas ambos são muito engraçados. Se tivesse que levar só um programa para uma ilha deserta (risos) eu ficaria, hoje, com o CQC. Fui entrevistado algumas vezes pelo Marcelo Tas, no Vitrine e no UOL. O cara sabe tudo de TV. Conheci o Rafinha Bastos também, nos tempos de Internet: é um batalhador e muito talentoso. Enfim, o Pânico está consolidado, mas o telespectador ganhou mais uma opção com o CQC. Aliás, cabe todo mundo. Seria guerra se eles estivessem no ar no mesmo dia e horário. Pensando bem, nem isso: daria pra ver um pela TV e outro num videozinho pirata no YouTube (risos).

Quem você diria que deveria ouvir Os Seminovos?
Maurício Ricardo: Fãs de rock em geral que sabem rir dos outros e de si mesmos!

Por Thiago Sarkis

¹ Charge sobre os comentários de Arnaldo Jabor acerca da morte de Dimebag Darrell – http://charges.uol.com.br/2004/12/13/televisao-too-old-to-rock-and-roll

Site Oficial:
Os Seminovos: www.osseminovos.com.br


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14 responses

7 04 2009
Jaderson Policante

Bacana a entrevista Thiago!

E o Maurício Ricardo é um cara muito talentoso.Acho muito massa as charges dele…Não sabia desse lado “roqueiro” dele, mas vou procurar conhecer o som…

8 04 2009
Juliana Chacon

Gostaria de ver essa charge sobre o Jabor e o Dimebag..

8 04 2009
Thiago Sarkis

Oi Juliana,

tudo bem?

A charge sobre o Jabor e o assassinato do Dimebag é o primeiro link após o fim da matéria.

Este link aqui: http://charges.uol.com.br/2004/12/13/televisao-too-old-to-rock-and-roll

8 04 2009
FranGaO

http://charges.uol.com.br/2004/12/13/televisao-too-old-to-rock-and-roll/
Link da charge relacionada ao Jabor e Diamond.

Abraços.

8 04 2009
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9 04 2009
Aurélio

Thiago Sarkis é um mooooooooonstro nas entrevistas, manja mtooo!
Parabéns kra!

9 04 2009
Ramon

Rede Globo??? Big Brother??? Seminovos??? acho que estou lendo o blog errado… foi o Sarkis que assino essa “entrevista”????

9 04 2009
Thiago Sarkis

Obrigado, Aurélio. 🙂

Ramon, não, você não leu errado, e nem são necessárias aspas em “entrevista”. É uma entrevista mesmo e é uma honra ter entrevistado o Maurício Ricardo. É um cara muitíssimo talentoso… Mais talentoso que muito músico que entrevistei em outras publicações.

9 04 2009
Thiago Martins

Ramón… na boa: é uma entrevista com um cara que fez fama nacional na Rede Globo por causa do BBB (mas só tocou de leve no assunto), curte rock – tem até uma banda -, e foi responsável por aparecer na grande mídia num dos momentos mais comoventes da história do metal defendendo os fãs do estilo. Mais Thiago Sarkis do que isso, de sair do lugar comum nas perguntas e nos temas, impossível. Pauta daquelas que um veículo com visão diferenciada não perderia de jeito nenhum.

29 05 2009
Talita

Esses caras são demais.

6 07 2009
Franci23

Não gosto muito do tipo de musica que ele faz mas como chargista o cara é um monstro, e o lance da morte do Dimebag mostra o talento do cara, parabens pela entrevista.

21 09 2009
Camila alves de brito alta floresta mt

euuuuuuuu amo as suas charges e adimiro muitoh seu trabalho sou sua fan numero 1 bjux te amoh BY camila

27 01 2010
Elias

Thiago Sarkis é um monstro nas entrevistas!!! A roadie crew perdeu muito com a sua saída… Parabéns!!

20 05 2010
Marcelo

Não consigo ver a charge do jabor e dimebag. Acho que o link está quebrado, aonde posso ver?

Obrigado!

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