Megalomaníaco, Flight 666 não acresce nada

25 04 2009

Documentário sobre turnê do Iron Maiden traz pouca informação relevante e bastante música do grupo

Documentário sobre turnê do Iron Maiden traz pouca informação relevante e bastante música do grupo

Documentário, segundo o Wikipedia¹, é o gênero literáriro que se preocupa com a exploração da realidade. Em Flight 666, Sam Dunn e Scott McFayden se propuseram a mostrar uma turnê grandiosa e curiosa do ícone do heavy metal, Iron Maiden. Durante seis semanas, o grupo inglês percorreria o mundo todo à bordo de seu próprio avião, o Ed Force One, comandado pelo seu vocalista, Bruce Dickinson, também piloto nas horas vagas, realizando 22 shows.

Que se tratava de uma tarefa hercúlea para a banda, não há como negar. Porém, para quem conhece a praxe megalomaníaca do Iron Maiden, mais difícil ainda seria que os realizadores de Headbanger’s Journey e Global Metal conseguissem fazer do documentário algo mais do que uma simples bajulação à mania de grandeza do empresário Rod Smallwood e seus comandados. E, nessa função, os cineastas falharam bisonhamente.

Poucas vezes, e insatisfatoriamente, o filme entra nos pormenores da realização de uma turnê tão extravagante. Pense em quaisquer curiosidades acerca de um avião carregando roadies, banda, empresário, equipamentos, apetrechos de palco, tudo isso ao longo dos países tão díspares como Japão e Costa Rica. Quase nenhuma delas foi abordada em Flight 666, quando muito, apenas de forma secundária, sem nunca chamar a atenção – alguém honestamente consegue se lembrar quantas milhas foram percorridas pela banda ao longo da turnê? Não seria mais fácil ter usado algum elemento comparativo, como “n voltas ao mundo” ou “x campos de futebol”?

Sam Dunn e Scott McFayden não repetem bons trabalhos de filmes anteriores

Sam Dunn e Scott McFayden não repetem bons trabalhos de filmes anteriores

Por outro lado, somos obrigados a conviver com uma banda que mal consegue agir diante das câmeras. Algumas piadas aparentemente forçadas, discursos dos membros soando ensaiados, autoelogios desnecessários embromam uma ou outra informação relevante, normalmente também destinada a mostrar como o Iron Maiden é sensacional, idolatrado e gigantesco, seja através de relatos dos próprios membros, seja de depoimentos por pessoas consagradas como Tom Morello e Lars
Ulrich.

Como apenas esse cerimonial não é capaz de segurar um filme de quase duas horas no cinema, o documentário se vale de grandes trechos das músicas, algumas quase inteiras, marcando o fraco desenvolvimento de uma narrativa quase inexistente com a evolução cronológica da turnê e a sequência do setlist do show. Nesses momentos no palco, até ensaia algo mais interessante, como mostrar algumas situações de bastidores, mas sempre pouco para satisfazer: por exemplo, em vez de mostrar Bruce vestido correndo para a sua posição no cenário, a questão do figurino não poderia ter sido mais bem explorada? Em vez de flagrar um dos roadies comandando o Eddie-cyborg por controle remoto, toda a montagem e funcionamento do boneco não mereciam uma atenção especial?

Ninguém em sã consciência aguardaria do Iron Maiden um relato de forma tão aberta quanto Some Kind of Monster expõe os podres do Metallica, pois a ideia de Flight 666 foi inserir o Iron Maiden no crescente mundo dos filmes de heavy metal. Porém, ficar vendo os membros da banda jogar golfe entre os shows também não acresce quase nada a quem se dispôs a ir ao cinema à meia-noite desejando ver um documentário, não trechos de um show ao vivo complementados por situações dignas de extra mequetrefe de um DVD. Infelizmente, não se esperava algo tão vazio de Sam Dunn e Scott McFayden.

Veja o trailer do filme abaixo:

¹ Wikipedia – Documentário

Por Thiago “Hal” Martins
Imagens:Divulgação


Ações

Information

14 responses

26 04 2009
Leandro Cardoso

Infelizmente, devido principalmente ao descaso do horário, não pude ir ver Flight 666. Por isso mesmo, nem posso dar uma opinião mais embasada. Vendo em comentários feitos no orkut, vi que grande parte gostou do que viu. Mas não deixa de ser surpreende uma crítica negativa. O paralelo que o Thiago Martins traçou entre Some Kind of Monster e Flight 666 foi interessante. Só que também nem fiz questão de ver o do Metallica.
Acredito que banda nenhuma deve se expôr tanto, mostrar o relacionamento interno dela e seus problemas, como dizem que o Metallica fez. Sinceramente, isso nem compete a mim ficar vendo, não dá para escancarar a privacidade desse jeito.
Quanto ao Flight, imagino que não dá para fugir muito do que foi proposto. Bem, quando eu tiver a chance de assistir, terei minhas perguntas respondidas. Para encerrar, o termo “megalomania” que foi colocado para o Maiden na matéria, bem, isso depende do ponto de vista de cada um, perante as bandas que gostam. Não vou ficar julgando ninguém. Mas gostei da matéria feita pelo “Hal”. Parabéns. Estava preocupado, fazia um tempo que o blog não era atualizado.

26 04 2009
Juliana Chacon

Infelizmente nao tive a oportunidade, nem disposição de ver o documentário.
Qto ao Some Kind do Metallica, acabou quebradno um pouco a imagem de banda que muita gente tinha, o que por um lado é bom, logo que vemos que sao tao reles mortais qto nós, mas por outro é ruim. Eu pelo menos acho legal manter alguns mitos e misterios sobre a banda. Eu gosto de manter meus ídolos num patamar acima, com uma “aura de magia”, e qdo isso se quebra é frustante. Claro, idolatria tem limites.
Seria legal mesmo ver como o Eddie é montado ao invés de ver somente o controle remoto, mas tbm nao precisa chegar ao ponto de mostrar as discussoes de Harris e Dickinson…

espero ver o filme e opinar melhor

27 04 2009
Suâmi Dias

Também não assiti ao filme, porém entendo o que o Thiago disse e concordo plenamente. Num filme deste porte, com certeza houve uma supervisão, tanto do Rod, quanto do Steve, então talvez aí tenha sido o pecado dos documentaristas. Quando se documenta algo, em que o documentado tem poder de opinar, sempre há uma via mais “leve” no produto final.

OBS: Thiago, o homem na foto ao lado do Sam Dunn, com certeza não é o Scott McFayden. Pegou a foto errada.

Valeu!

27 04 2009
Suâmi Dias

Desculpe. É Scott McFayden. O cara tá sem barba e me enganou. Foi mal!

27 04 2009
Thiago Martins

Leandro, não acho “megalomania” algo ruim, necessariamente. O Maiden tem uma tendência de querer tornar tudo o que faz algo grandioso. E consegue. Fez isso com o documentário, levar a banda a participar desses circuitos de exibição de filmes. E, pelos relatos mundiais, teve sucesso. O problema, em si, foi a qualidade de Flight 666, que, para mim, a falha não foi da banda, sim dos realizadores.

Quanto ao Some Kind of Monster, sobre quem a Juliana também fala, ele se propôs a ser um diário da gravação do St. Anger. A situação da banda, com a presença do psicólogo, tornou todo o processo de uma pessoalidade absurda. Existiam duas opções – que eles mesmos abordam no próprio filme: ou ele era cancelado por ser pessoal demais, ou expunha a banda em todas as suas entranhas, algumas não desejáveis. Optaram pela segunda. Se editassem essas partes, o filme seria banal. Com elas, você acaba até chegando a um outro nível de compreensão acerca da ruindade do disco… para mim, função cumprida.

Suâmi, não sei se houve supervisão do Rod no projeto. Seria leviano afirmar, só o Sam ou o Scott poderiam dizer algo do tipo. Todo caso, não acho nem que fosse necessário. O documentário poderia ter abordado questões técnicas e curiosas da turnê sem minimamente ser algo ruim para a “megalomania” da banda. Nesse aspecto reside a minha maior crítica aos documentaristas. Quando o filme termina, o objetivo dele não me pareceu claro – acabou sendo apenas uma desculpa para ver trechos do show do Iron Maiden no cinema.

Já quanto às atualizações do site, a gente leva o Solada muito a sério ao ponto de atualizá-lo de qualquer jeito apenas para manter o site ativo. Normalmente, o Sarkis, que é o dono do site, gasta e dedica tempo demais nas matérias, para sempre melhorar a qualidade que ele sempre desenvolveu na Roadie Crew. Infelizmente, nos últimos dias, tempo vem sendo escasso devido a nossos outros compromissos. Mas há muitas coisas na gaveta, a gente está definindo detalhes para publicá-las. Stay tuned! 🙂

27 04 2009
Suâmi Dias

Entendo quando diz ser leviano fazer a afirmação da supervisão do documentário, mas quem fez a fama de controladores (Rod Smallwod e Steve Harris) não foi eu. Assim como, penso que o Some Kind… do Metallica passou pela mesma situação. Em todo caso, os caras não vão falar sobre isso. Falou!

4 05 2009
Campinas

Também concordo com o Tiago, penso que quando vamos fazr algo, façamos bem feito.

Laura

13 05 2009
Anderson Consenzo

Grande Hal!

Chega a ser deprimente certos materiais que as bandas consagradas tem lançado ultimamente.
Estariam eles somente interessados em ganhar mais dinheiro?

Abraço

29 05 2009
franci23

Isso é verdade cara, pois as bandas não estão mais ligando pro conteúdo dos materiais novos, muita coisa desnecessária anda aparecendo por aí, este filme pelo que vi é um dos desnecessários.

31 05 2009
Benedito Machado

Bom, por falar em algo “mal feito”, tenho uma reclamação a fazer. Em TODOS (eu disse TODOS) os meios de comunicação da imprensa especializada em metal desse país, eu vejo um erro que eu não aguento mais ver. Todos os sites e revistas atribuem a origem do nome IRON MAIDEN com uma ligação da ex-primeira ministra inglesa Margaret Thatcher que tinha o apelido de IRON LADY. Já vi inúmeras discursões sobre o iron maiden que existiu antes do iron famoso. Mas o que eu acho muito mais interessante seria abordar esse tremendo erro que inclusive a maioria dos fãs cometem e dizem que o nome da banda é por causa de margaret thatcher. Bom, vejam o que o Steve fala sobre essa comparação nessa entrevista de 1979 para a revista sounds:
http://nwobhm.info/nwobhm/index.php?option=com_content&task=view&id=316&Itemid=42

Bom, Thiago, eu adoraria ver uma matéria sobre isso, sobre esse erro que quase todos cometem. Pois é até engraçado quando as pessoas falam que o nome da banda é por causa da IRON LADY britânica rsrsrs.

22 06 2009
Guia de Santos

Concordo com Leandro, acho que a imgaem que deve ser passada ao publico é do artista e do grupo, a vida pessoal de cada um é problema deles.

Lara

30 06 2009
Rhenan

Tá na cara que foi feito apenas para pessoas que gostam da banda e que amam a banda de certa forma. Achei direto. E é um documentário sobre uma turnê mundial, é claro que a linha de narrativa tá inexistente. Mas confere a lambeção de saco e também a falta de foco nas filmagens.

24 07 2009
RickHarrisBR

Thiago, respeito seu ponto de vista, porém discordo. Como fã eu achei o documentário muito bom, com imagens e sons de extrema qualidade. Era pra esperar mais? Pode ser que a sua expectativa estava muito elevada.
Para o fã é um privilégio ver parte do cotidiano da banda, e sinceramente eu não esperava que muitos segredos ou podres fossem revelados. Afinal, eles continuam no auge e podem se atrever a decidir por um conteúdo totalmente ao seu favor e talvez menos polêmico.
Um 757 particular já é um bom motivo pra se gabar você não acha?
Em suma, achei um trabalho muito bom, imagens e som excelentes, e atendeu minhas expectativas.
Temo que seu texto nivele muito por baixo o filme que não é tão ruim assim.
Abraços

9 10 2009
zona sul

Também não assiti ao filme

Fernando

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