Global Metal: Metal teria ganhado força no Brasil com fim da ditadura

4 02 2009

gm_posterApós o sucesso de Metal: A Headbanger’s Journey (2005, lançado no Brasil apenas em 2007), o antropólogo, documentarista e headbanger de carteirinha, Sam Dunn, e seu parceiro Scott McFayden, partiram para uma viagem ao redor do mundo para continuar sua “jornada pelo universo do Heavy Metal”. O resultado é o ótimo Global Metal, lançado em 2008 no Canadá, mas que, por enquanto, não deu as caras por aqui.

Se o primeiro documentário agradou aos fãs de Heavy Metal por retratar o gênero com o devido respeito pela lente de um verdadeiro headbanger, por outro lado, não agregava muita informação aos já iniciados no universo do Metal. Global Metal, por sua vez, é pura novidade e mostra como os metalheads que vivem fora dos Estados Unidos e da Europa interpretam a música pesada.

Segundo Sam Dunn, depois de Metal: A Headbanger’s Journey, ele recebeu diversas mensagens de fãs de todas as partes do mundo e descobriu que existia Heavy Metal em locais onde nem imaginava.

A viagem do canadense começa então pelo Brasil, o qual, dentre os países “exóticos” visitados por Dunn, é o que tem mais representatividade na cena internacional graças, é claro, ao Sepultura.

Por aqui, o documentarista e sua equipe visitam Rio de Janeiro e São Paulo e conversam com Carlos Lopes (Dorsal Atlântica), Rafael Bittencourt (Angra), Toninho (fã-clube do Sepultura), Eric de Haas (Dynamo Pro) e ainda uma pesquisadora da UNIRIO. Completam o capítulo brasileiro entrevistas com Max Cavalera (Cavalera Conspiracy – Soulfly), Adrian Smith e Dave Murray (Iron Maiden). A principal idéia defendida pelos entrevistados é a de que o Metal ganhou força no país com o fim da ditadura em 1985, servindo como uma espécie de trilha sonora para as mudanças que aconteciam no Brasil à época.

Daqui, a equipe de filmagem partiu com seus equipamentos para o outro lado do mundo, a fim de mostrar o Heavy Metal no Japão. A “terra do sol nascente” faz parte de uma rota praticamente obrigatória para as turnês de qualquer banda de Rock pesado, porém, salvo raras exceções como o Loudness, poucos foram os conjuntos que obtiveram êxito mundial saindo de lá. Lars Ulrich (Metallica), Tom Araya e Kerry King (Slayer), contam suas experiências em solo japonês. No etanto, é Marty Friedman (ex-Megadeth e Cacophony) quem aparece em destaque mostrando as peculiaridades do Metal nipônico, já que ele se tornou uma estrela no Japão. Em realce, as bandas do movimento Visual Kei, que com seu visual extravagante (esqueçam o Hair Metal dos anos 80, isso sim é extravagante!) e o Speed Metal aliado a baladas melosas ao piano transformaram grupos como o X-Japan em fenômenos Pop.

Na Índia, o Heavy Metal ainda é um movimento underground e, até o período de filmagens de Global Metal, nenhuma grande banda havia tocado por lá (no final do filme, contudo, a equipe registra o primeiro show do Iron Maiden no país). O cenário musical retratado é dominado pela “Bollywood Music” com canções Pop que são uma constante nos filme de Bollywood, a indústria cinematográfica indiana.

Já na China, o Metal chegou somente nos anos 90, quando o país começou a se abrir para a cultura ocidental. Um dos responsáveis pelo feito foi a Tang Dynasty, primeira banda chinesa do estilo. Outra fonte para os chineses eram os CDs que deveriam ser destruídos pelo governo, mas que acabavam contrabandeados e vendidos pelos headbangers. Hoje, o país conta com inúmeras bandas, dentre as quais, o Ritual Day e o sombrio Voodoo Kungfu.

Próxima parada: Indonésia. No pequeno país asiático as coisas são mais abertas, com uma edição própria da revista Rolling Stone e correspondentes da Time Magazine. Grandes bandas de Metal já tocaram por lá, como o Sepultura, em 1992, e o Metallica, em 1993. Porém, além de certas dificuldades de se estabelecer este tipo de música no país com maior população muçulmana do mundo, uma grande confusão com vários feridos durante o show da banda de James Hetfield na primeira metade da década de noventa fez com que os shows de Heavy Metal fossem proibidos no país.

Global Metal segue seu curso contando um pouco sobre os indonésios do Tengkorak, banda que aborda temas políticos e religiosos em suas letras, como o ódio entre judeus e muçulmanos. É justamente aí que o longa entra em sua melhor parte, contando como o Heavy metal se encaixa em meio a conflitos religiosos e como as temáticas de guerras são assimiladas por aqueles que vivem esses conflitos no dia-a-dia.

Ressaltando este aspecto, Global Metal parte para Israel e entrevista Kobi Farhi, vocalista do Orphaned Land, que fala sobre a cultura de Jerusalém, muito antiga e diversa como o próprio se orgulha ao dizer: “Todos estiveram aqui: Abraão, Jesus, Maomé”.

O líder do grupo Arallu, em sua entrevista, salienta que as bandas norueguesas de Black Metal falam sobre histórias que foram contadas pelos árabes, enquanto os israelenses vivem aquilo de verdade. Já Nir Nakav, mentor da banda Salem, nos lembra que a realidade é muito mais assustadora que qualquer história de terror.

Outro exemplo de como os headbangers de Israel vivem o que nós apenas lemos nas letras de algumas músicas é quando um produtor diz que, apesar de gostar de Angel Of Death do Slayer, esta é uma música que o incomoda, pois seu pai esteve no Holocausto.

A última parte do documentário foi rodada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Sam Dunn aproveitou a realização do “Desert Rock Festival”, maior festival árabe do gênero, para conversar com fãs e músicos iranianos, libaneses e sauditas sobre a dificuldade de se curtir o Metal em territórios com governos tão controladores.

Perto da repressão sofrida pelos árabes – presos, agredidos e, às vezes, forçados a cortarem seus cabelos pela polícia da região -, parece bobagem o enorme preconceito que os fãs de Metal sofrem aqui no ocidente.

O filme chega a seu ‘grand finale’ de forma bem semelhante à de Metal: A Headbanger’s Journey, novamente com um show, o primeiro do Iron Maiden na Índia – no documentário anterior, o fechamento ocorrera com o “Wacken Open Air”.

Global Metal traz muita informação e é um prato cheio, tanto para quem quer conhecer bandas de países fora da Europa e das Américas, quanto para quem se interessa pelos aspectos sociais que envolvem quaisquer vertentes musicais.

É claro que existe Heavy Metal em lugares que sequer foram mencionados, assim como há muito mais bandas em cada país visitado do que as representadas no documentário. Há de se ter em mente, porém, que um filme nunca poderá dar conta da totalidade de qualquer assunto. Dessa forma, vale conferir Global Metal em DVD ou nos cinemas – assim que ele chegar ao Brasil, o que pode demorar um pouco, claro. Excelente documentário e belo exemplo de uma “sequência” que superou o “original”.

Por Filipe Sartoreto

Site Oficial: www.globalmetalfilm.com/03/GM_03.html


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6 responses

4 02 2009
Val Oliveira

Eu ja tinha assistido o primeiro documentario, e hj tenho o dvd. Global metal tbm é muito bom, eu tinha ja visto ele faz um bom tempo, graças a internet.. e esepro que assim como o primeiro, saia em dvd por aqui!

5 02 2009
luciano

Quando eu tinha 9 anos em 1983 com a vinda do KISS ao Brasil me interessei e sigo o caminho do metal até hoje.a repressão era nas ruas,escolas,EM CASA,familia,etc.
isso só veio a fortalecer a marca do estilo em minha vida.METAL FOREVER.

5 02 2009
Ferramentas de Corte

Tb ja assiti o documentario, vou adquirir o dvd

6 02 2009
Jaderson Policante

Assisti ao Global Metal pelo Tube,e mal vejo a hora de sair em DVD…
O filme é muito bacana!!!

14 02 2009
Leandro Cardoso

Desde que vi o fantástico documentário Metal: A Headbanger’s Journey, me tornei fã do antropólogo Sam Dunn, que fez um excelente levantamento histórico sobre a “Nação Metal” ou a nossa “tribo” que curte Heavy Metal!!!!
Estou muito curioso para assistir Global Metal, e conferir como é a luta de nossos amigos para curtir este estilo de vida em culturas mais repressoras!

16 02 2009
Franci23

Sou fã de metal e tenho orgulho de toda nossa cultura headbanger, mas ainda não assisti nenhum dos documentarios citados mas irei procuralos pois me senti curioso.
Banger or be banged!

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